ANÁLISE DE TIRINHAS (040): POR QUE O POVO NÃO LÊ?

Fonte: Jornal Correio Popular, Campinas, 05/11/2014

Na retumbante frase atribuída a Monteiro "Um país se faz com homens e livros", faltou um elemento: "leitura". Dessa forma, a frase deveria ser "Um país se faz com homens, livros e leitura". Faltou a prática cultural ou processo cognitivo que torna possível a produção da ideias pela interação entre os homens e os livros. 

Homens - ou cidadãos - temos mais de 200 milhões no Brasil. Livros temos à mancheia, visto que a nossa produção de livros impressos não é das piores e os governos, para a alegria dos editoras, dispende milhões de reais para comprar e distribuir livros gratuitos para as escolas. Isto parece significar que o livro em si de nada adianta se não forem dadas aos homens as condições objetivas para que possam interagir com livros.

Já se tentou explicar a falta de leitura no Brasil através de diferentes argumentações: étnicas, psicológicas, sociológicas, etc. Dentre elas é que o brasileiro, em função de sua etnia híbrida, tem preguiça de ler; sem dúvida, um inatismo maluco que mais ofusca do que esclarece a problemática.

No meu ponto de vista, políticas transformadoras de leitura nunca interessaram aos governos e aos poderosos - isto porque, se devidamente disseminada, a leitura pode levar ao questionamento da estruturas injustas existentes em nosso país. Neste termos, um Brasil verdadeiramente leitor poderia conduzir o país a mudanças radicais, banimento das oligarquias, questionar a razão de ser dos fatos e assim por diante. 

O quadrinho acima aponta para a questão da não-leitura no Brasil e a a força que os livros poderiam ter na mudança, para melhor, na vida do povo. Além disso, mostra que o "saber ler", condição que é adquirida via educação e escola, não existe na prática. Ou seja: livros podem melhorar a vida das pessoas, mas a leitura não é disseminada e assentada junto ao povo - uma contradição que acompanha a nossa história e que barra o acesso aos bens da cultura letrada, do livro à tela do computador. 

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Quem quiser saber mais sobre a força dos livros, da leitura e da literatura na esfera da transformação, recomendo que leia a obra EDIÇÃO E SEDIÇÃO, de Robert Darnton (Editora Cia. das Letras). 


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